quinta-feira, 5 de julho de 2007

A Ética do Perecível









A quantidade de textos que encontro diariamente na mídia sobre: manter a forma, alimentação, vitaminas através de pílulas, personal isso, personal aquilo, me faz sentir que a humanidade inventou o pior dos desejos; o da assepsia.


Em O Retrato de Dorian Grey de Oscar Wilde, o autor já apontava um começo de século XX em que prioridade seria a vida eterna. O Frankenstein, uma espécie de homem bricolado pela tecnologia, como vemos hoje através de periféricos e interfases, Drácula que vive uma saga de amor e procura no sangue humano – sua fibra ótica - a eternidade. Poderia ficar aqui citando ad infinitum, mas de nada valeria.


Mas o que chamo a atenção é se vivemos em uma sociedade do livre arbítrio e do bom senso, acabamos por muitas vezes ter que recorrer a ética profissional, governamental, educacional, para obtermos respostas do impulso humano que são regidos pelo medo e o desejo.


Paternalismo a parte sempre me pergunto: Onde foi parar o signo do bom senso?
Marvin Minsky, o criador da Inteligência Artificial, sempre disse que o maior desafio do pesquisador com as máquinas é criarmos o que chamamos de bom senso.


Começo a duvidar desta idéia sobre “bom senso”, porque é justamente aí que reside o livre arbítrio, que por incrível que pareça deixa de existir. Tenta-se substituir o livre arbítrio natural, pela ética institucional, no sentido de preservar a moral, controlar os horários da TV, criar ações positivas – na qual sou a favor - , na tentativa da igualdade de competências, ou seja, não correr riscos, criar o menor numero possível de impureza humana e social.


O problema é que felizmente não somos eternos, somos precários, definhamos, deterioramos, e em algumas vezes perdemos a dignidade, e o que é pior, isso não acontece embaixo da terra.

Dorian Grey viu em seu retrato o que o tornou asséptico, Frankenstein não se contentou com a eternidade, por uma crise de identidade parental, Drácula vampirizou todos o rodeava, com medo da solidão eterna, mas o bom senso destas criaturas foi saber que a eternidade não saciava seus desejos, e quem a quer pensando em ser desejado não haverá ética que a suporte.


Nenhum comentário: