domingo, 22 de abril de 2007

Cho Seung-hui e o Manifesto da Morte


Quando exibi o Cd ROM Interpoesia em 1998, tive a idéia de colocar nele um texto para que o estranhamento tivesse menos impacto. Resolvi escrever mais no sentido alegórico do que formal, o Manifesto Digital, em que eu comentava que cada um de nós poderíamos contar nossa própria história através de meios interativos com a facilidade que era digital vinha se desenvolvendo, sem a autorização de nenhuma instituição e nem diretor de cena e torná-la pública:
“It is a well-known fact that during the Middle Ages the story teller told stories to those who did not understand the language of the scriptures and that nowadays we need film directors to tell us the same stories because we do not apprehend the scriptures of the cinematographic language. In a near future the programs of authorship probably will be transformed into a possibility to lead us to become narrators of our own stories and mediators of our own existence when in need to tell our own story…” trecho do Manifesto Digital de 1998

Por ironia deste futuro quase provável, assistimos esta semana a loucura do rapaz coreano Cho Seung-hui, que matou cerca de 32 pessoas no Instituto Politécnico da Virginia (Virginia Tech). O curioso, além de trágico, é que entre uma matança e outra, o rapaz enviou uma seria de material pelo correio para NBC - fotos, textos e cd com vídeos - contando o que faria, o porque faria, e se auto intitulando um messias. Nada seria tão maluco, já que estamos acostumados a todas as formas de manifestações patológicas, se o jovem assassino não tivesse intitulado este material de “Manifesto Multimídia”.
O século XX foi fadado pelo fato dos manifestos serem sempre uma espécie de autorização a experimentos artísticos, provocando a hegemonia dos “ismos”.
Agora, o que estão estes manifestos autorizando? A ira, as diferenças étnicas, os ditos Losers – perdedores – que não são aceitos por uma sociedade asséptica como a americana, o que não justifica nenhuma forma de violência.
O fato é que quando escrevi o Manifesto Digital - http://transitoireobs.free.fr/to/article.php3?id_article=31 - apenas percebi que escrever a própria história estaria sempre ligado a um memorial de vida, mas infelizmente o manifesto também passa ser a linguagem dos assassinos como Cho Seung-hui que se utilizou mais uma vez da mídia como registro das mortes que ainda faltavam ocorrer, ou melhor, daqueles que resolvem a diferença pelas armas, e nisso os Estados Unidos não tem muita diferença.
No livro magnífico de Gilberto Mendonca Teles, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro da editora Vozes, o autor faz um levantamento dos principais manifestos artísticos do século XX. Me coloco então a pensar, depois deste atentado com o nome Manifesto Multimídia, como poderemos ler os manifestos que se propunham a rupturas de linguagem, como dadaísmo, futurísmo e outros "ismos" .
Penso que este Manifesto abre uma nova era para que o terrorísmo comece a ganhar status de propostas só que agora de caráter individial, que não precisam mais agir dentro do modelo grupal, porque isso já fica a cargo da tecnologia não presencial, e entao perguntamos: Qual será o próximo passo? Acredito que será a morte a distância - on line -.

Wilton Azevedo

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